A indústria brasileira apresentou sinais de recuperação no terceiro mês deste ano, de acordo com pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O estudo revelou um aumento na produção industrial e no emprego, principalmente nas indústrias de médio e grande porte. O indicador de evolução da produção alcançou 51 pontos em março, em comparação com os 48,5 pontos registrados em fevereiro. No entanto, esse bom desempenho pode esbarrar na falta de matéria-prima e alta nos custos de insumos.
O mercado de trabalho iniciou o ano em alta, e os dados sugerem que essa tendência persiste. No entanto, os empresários do setor demonstraram insatisfação com a situação financeira no início deste ano. O índice de satisfação caiu 1,6 ponto em relação ao último trimestre de 2023, passando de 51,1 pontos para 49,4 pontos em março de 2024. Isso reflete uma mudança na percepção dos empresários, que passaram de satisfeitos para insatisfeitos com os lucros.
Aumento nos preços de matéria-prima é desafio
Além disso, o índice de evolução do preço das matérias-primas aumentou 2 pontos, alcançando 56,8 pontos. Como resultado, a falta ou o alto custo de insumos e matéria-prima voltou a ser uma das principais preocupações do setor industrial, ocupando a terceira posição, com 19,6% das respostas. A elevada carga tributária continua em primeiro lugar, citada por 35,7% dos empresários, seguida pela demanda interna insuficiente, apontada por 30,6%.
Utilização da capacidade instalada está estável
A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) manteve-se estável em 68% pelo segundo mês consecutivo. A pesquisa da CNI mostrou um aumento nos estoques de fevereiro para março, atingindo 50,4 pontos. No entanto, apesar desse aumento, os estoques continuam abaixo do nível esperado pela indústria, como indicado pelo índice de estoque efetivo em relação ao planejado, que marcou 49,8 pontos. Este é o quarto mês consecutivo em que a pesquisa não registra excesso de estoque.
Intenção de investir volta a crescer
Em abril de 2024, os indicadores de expectativa de quantidade exportada, de compras de matérias-primas e de demanda avançaram, enquanto a expectativa do número de empregados na indústria se manteve estável. Todos os indicadores apontam para expectativas mais otimistas em comparação com a média histórica do período. O indicador de intenção de investimento atingiu 57,0 pontos este mês, após avançar 0,5 ponto em relação a março. Com esse aumento, o índice está 5,1 pontos acima da média histórica da série, que é 51,9 pontos.
Pesquisa Fiep confirma aumento nos investimentos
Esses números também são confirmados pela mais recente Pesquisa de Intenção de Investimento em 2024, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A pesquisa com mais de 400 empresas industriais revela uma melhora na intenção de investir. Com 57% das empresas que ainda pretendem investir esse ano, mais do que 43% em 2023.
Recursos próprios e financiamento público impulsionam investimentos
Tanto pequenas quanto médias e grandes empresas têm planos de aumentar seus investimentos em relação ao faturamento, com destaque para o crescimento nos investimentos em máquinas, equipamentos e instalações.
O estudo indica que esses investimentos serão prioritariamente financiados com recursos próprios. Contudo, existe a possibilidade de triplicar esses investimentos com recursos públicos provenientes do BNDES, direcionados para a aquisição de máquinas e equipamentos, inovação e Processo de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Tendo como principal objetivo o aumento da produtividade.
A globalização em xeque na análise de Newton Guimarães
A convite do Setor Moveleiro, o pesquisador Newton Guimarães, da Fundação de Dados, fez uma análise desses números. Na sua visão, “os dados setoriais neste ano, assim como no ano anterior, não são francamente positivos, mas, também, não são francamente negativos”, disse.
Segundo o pesquisador, “parece que o mundo ainda busca certo equilíbrio, após os desarranjos dos anos anteriores, principalmente devido à crise sanitária e à invasão da Ucrânia”.
“É positivo que, mesmo diante de tantas dificuldades, o espírito empreendedor industrial brasileiro se manifeste”, afirma Newton Guimarães, pesquisador da Fundação de Dados.
A fragilidade das cadeias de fornecimento
Guimarães aponta que a globalização recebeu um duro golpe a partir de 2020, quando as cadeias de fornecimento foram bruscamente interrompidas, demonstrando a fragilidade da interdependência global industrial. Ele ressalta que “a ressaca dessa ruptura está ocasionando um fenômeno denominado nearshoring, quando a proximidade geográfica passa a ser fator fundamental para a segurança da continuidade de fornecimento, ou, ainda, friendshoring, que pressupõe relacionamentos comerciais com nações mais alinhadas cultural e politicamente”, explica.
Para o pesquisador, essa “desglobalização”, ou rearranjos produtivos e comerciais, teriam efeitos inflacionários, já que o critério de escolha “preços mais baixos de produção” cede espaço a outras motivações, como proximidade ou confiança, muitas vezes acompanhadas por preços mais elevados.
Preocupação e otimismo
Guimarães destaca que, apesar das preocupações, como a elevada carga tributária e a demanda interna insuficiente, os resultados da pesquisa indicam um otimismo crescente. “É positivo que, mesmo diante de tantas dificuldades, o espírito empreendedor industrial brasileiro se manifeste”, afirma.
No entanto, o pesquisador expressa sua desconfiança em relação à política de reindustrialização e investimentos públicos, alertando que “os resultados positivos a curto prazo podem cobrar um preço caro no futuro, quando os gastos começarem a se tornar insustentáveis, comprometendo os fundamentos macroeconômicos”, alerta.
Fonte: Site Setor Moveleiro
Postado em 15/05/2024